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O SÍMBOLO

Foto do escritor: Nádia YuanNádia Yuan

Atualizado: 7 de out. de 2024


Definição | Descrição | Ação


O símbolo é uma representação visual (ou outras) cuja mensagem ultrapassa em muito o sentido literal do mesmo. A maioria dos textos imbuídos de simbolismo encontram-se nos discursos religiosos, artísticos e culturais. A simbologia coletiva ocupa lugar de destaque nas lendas, mitos e contos de fadas.  Neles tomamos conhecimento dos arquétipos, imagens primordiais eternas,  componentes estruturais do inconsciente coletivo e por conseguinte da psiqué humana.

O ser humano nasce inconsciente num corpo com a sensibilidade à flor da pele.

Após o nascimento, na criança domina o pensamento mágico. A partir dos 2 anos e até aos 7 toma forma o pensamento simbólico e a memória explícita. Na baixa infância, a fantasia, a imaginação e a criatividade abundam. Ela vive num mundo animado e emotivo onde o impensável é possível e às pessoas, objetos e animais são atribuídas qualidades sobrenaturais. A partir dos 7 anos, o pensamento lógico desenvolve-se progressivamente até adquirir a racionalidade característica dos adultos que perdura até ao final da vida, no entanto, no fundo do inconsciente pessoal de cada um, jazem memórias arcaicas e crenças formadas, fruto do total das experiências vividas. Esquecidas e com o tempo desatualizadas e descontextualizadas, os conteúdos armazenados podem carecer de atualização e podem perturbar o equilíbrio do sistema psíquico. Quando existem bloqueios ou imaturidade, convicções irracionais, o indivíduo não possui a resiliência necessária para fazer face aos impulsos desestabilizadores.

Mas o que é o pensamento simbólico? Ele é o resultado da capacidade mental na organização da representação de conceitos complexos e abstratos que está na origem das narrativas (pessoais, sociais). Ex: pinturas rupestres, memória e representação do real, fantasia e intenção, projeção de afetos: uma imagem, vários significados e sentidos.

Os símbolos contêm o elemento da numinosidade, conceito desenvolvido por C.G. Jung para descrever experiências religiosas ou espirituais que contêm a qualidade do transcendente, ou seja, apontam para o sagrado e/ou sobrenatural (realidade cuja ordem escapa à lei ordinária) e por esse efeito, ajuda o sujeito a ultrapassar dúvidas em questões existenciais da vida humana, por ex. o rosário para os católicos. O símbolo é eficaz na mobilização de energias intrínsecas (afetos). A comunicação pelo símbolo chega ao destinatário com um mínimo de dispêndio energético, a mensagem é captada imediatamente pelo aparelho cognitivo sem ter que recorrer ao pensamento elaborado. Ex. o Hino nacional é um símbolo que representa não só o país, mas ainda o sentimento de orgulho, lealdade, pertença, patriotismo, etc. Quando o símbolo é social ou pessoal, carregam nele, em consonância com a herança cultural e a experiência de vida, significados que “mexem” com o(s) próprio(s). Retomando o exemplo do Hino nacional, para alguns, o Hino pode transmitir o oposto que a outros, mas continua a ser um símbolo.  Para outros ainda, o mesmo Hino é- lhes indiferente e nessa circunstância, a representação sonora (letra e música) deixa de ser simbólica por falta do estímulo da função emotiva que assim, o desqualifica. Sem afeto passa a signo. Em contraste e como exemplo, uma canção como “A Grândola vila morena” ganhou dimensão simbólica (passou a símbolo) pelos conceitos de liberdade e democracia e vontade popular por evocar esses valores no imaginário coletivo do português que o ouve, após Revolução. Antes disse era uma canção alentejana. O simbolismo concretizou-se com um acontecimento de forte comoção com grande significado para a sociedade, a Rev. dos Cravos que terminou com o regime do Estado Novo.

Na psicologia analítica observam-se as dinâmicas da realidade do sujeito. Do seu inconsciente surgem conteúdos encriptados que chegam à consciência através de imagens, motivos e narrativas. É na vida onírica que o sonhador se depara com o seu roteiro subjetivo e nele pode encontrar eco e respostas para a ultrapassagem de dificuldades e conflitos, em prol da homeostase do organismo. Ao prestar uma atenção cuidada, os símbolos oferecem ao indivíduo a possibilidade de compreender o que se passa nos bastidores do seu íntimo e através da capacidade para evocar sentimentos de temor, fascínio, reverência no sujeito, revelar mensagens que transcendem e regulam a consciência. O símbolo ao fazer a ponte entre o profano e o sagrado revela novos sentidos para a pessoa e a sua vida.


Nádia Yuan

Analista junguiana e supervisora

 
 
 

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